Clevane de asas-Homenagem a Fernando Pessoa-Clevane pessoa
CLEVANE DE ASAS HOMENAGEIA
O GRANDE POETA FERNANDO PESSOA
Imagem: auto-retrato de Fernando Pessoa
(de domínio público,segundo consta).
Trovas do Grande Fernando pessoa,em seu aniversário(13 de junho!)
Quando eu digo tantas palavras em favor das trovas, às quais chamo,desde os Anos sessenta,
de "Pequenas Notáveis", sei bem, como trovadora,do que falo!
Há esnobes intelectuais que torcem o nariz para ela,apenas por ser quadra,
de rimas cruzadas-cujo mérito é mesmo ser fácil de gravar...
O heterônomo Fernando Pessoa,não as desprezou
e aqui lhes trago a prova,suas quadras,bem ao gosto popular:
Cantigas de portugueses
São como barcos no mar -
Vão de uma alma para outra
Com riscos de naufragar.
A terra é sem vida, e nada
Vive mais que o coração
E envolve-te a terra fria
E a minha saudade não!
O moinho de café
Mói grãos e faz deles pó.
O pó que a minh'alma é
Moeu quem me deixa só.
Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.
Teu vestido porque é teu,
Não é de cetim nem chita.
É de sermos tu e eu
E de tu seres bonita.
Vem cá dizer-me que sim.
Ou vem dizer-me que não.
Porque sempre vens assim
P'ra ao pé do meu coração.
Tenho um segredo a dizer-te
Que não te posso dizer.
E com isso já te o disse
Estavas farta de o saber...
Dona Rosa, Dona Rosa,
De que roseira é que vem,
Que não tem senão espinhos
Para quem só lhe quer bem?
Dona Rosa, Dona Rosa,
Quando eras inda botão
Disseram-te alguma cousa
De flor não ter coração?
Trazes uma cruz no peito.
Não sei se é por devoção.
Antes tivesses o jeito
De ter lá um coração.
Fernando Pessoa
E lembro que amanhã 13 de junho é a data de seu nascimento.
A partir de hoje, começo a homenageá-lo, o patrono deste site, simples,
com a finalidade de divulgar a beleza, apenas...
Clevane
para "Trovas,pequenas Notáveis",em breve,volume II(e-book e papel)
Notas para uma Carta de Pessoa para Mário Beirão,amigo(1913).
Uns terão um lar, quem sabe, amor
Para homenagear Fernando,uma trova;
Quanto me sinto pequena,
por levar tal sobrenome!
Eu,\"pessoa\" voz amena,
Ele grande,com renome...
Clevane pessoa, em 12/06/06,
véspera da data natalícia de Fernando Pessoa...
Outros terão um lar,quem saiba,amor
Outros terão
Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo.
A inteira, negra e fria solidão
Está comigo.
A outros talvez
Há alguma coisa quente, igual, afim
No mundo real. Não chega nunca a vez
Para mim.
\"Que importa?\"
Digo, mas só Deus sabe que o não creio.
Nem um casual mendigo à minha porta
Sentar-se veio.
\"Quem tem de ser?\"
Não sofre menos quem o reconhece.
Sofre quem finge desprezar sofrer
Pois não esquece.
Isto até quando?
Só tenho por consolação
Que os olhos se me vão acostumando
À escuridão.
(Fernando Pessoa, 13-1-1920).
Imagem:estátua de Fernando Pessoa,em Lisboa.
Sossega, coração! Não desesperes!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa, 2-8-1933.
"Navegar é preciso,viver não é preciso"
Embora muito se atribua a frase "Navegar é preciso" a Pessoa, ela é de autoria de um romano (ler nota abaixo).Todavia,o poeta fez como aconselha Voltaire ("Pela apreciação,tornamos a excelência de outro, propriedade nossa"), tomando para título dos versos enfeixados na poesia que se segue,onde sua alma grandiosa se derrama e nos aquece.
Clevane pessoa
outubro 03, 2005
Navegar é preciso...
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Navegar é preciso
Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser
o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha
de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica
do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria
e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo
da nossa Raça.
Fernando Pessoa
Nota: "Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, fala do general romano Pompeu,(106-48 aC), pronunciada quando seus marinheiros não queriam viajar,em guerra,segundo narra Plutarco, na "Vida de Pompeu"
"O Poeta é um fingidor" e "Todas as Cartas de Amor são ridículas"
Foto de Fernando Pessoa,pequenino,aquele que se desdobraria em várias personas várius animus e numa grande alma Alberto Caieiro,Ricardo Reis,Álvaro de Campos.Chamado o poeta dos heterônimos,Pessoa atribuía a cada um deles,uma vida separada da sua.Atribuiu,em cartaa Adolfo casais Monteiro,seus heterônomos à Histeria-segundo ele,nas mulheres,os sintomas são diferentes,nofenômeno histérico:ataques e coisas similares.Por viver na sua solidão,ele se desdobra e afirma que Álvaro de Campos é o mais histéricode todas as suas personas.Não sendo mulher,sua histeria se acaba,para ele,em poesia e no silêncio.
Clevane pessoa Lopes
A poesia abaixo contém um de seus mais conhecidos versos
("o poeta é um fingidor"):
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
01.04.1931
A poesia foi publicada no número 36, de "Presença" (Novembro/1932)
Dessa personagem, então, Álvaro de campos, a mais conhecida,talvez,das poesias;
Todas as cartas de amor são ridículas
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos,escrita em 21/10/1935
Notas para uma Carta de Pessoa para Mário Beirão,amigo(1913).
Fico imaginando,no século XX ,a extrema angústia porque passava o poeta,com seus desdobramentos de personalidade- segundo ele,a causa-a que denominou "histérica",mesmo não tendo um útero-de seus heteronômios.
Nessa missiva,Fernando pessoa descreve seu desdobramento.Hoje,o desdobramento é uma Ciência,comprovada cientificamente.Os tempos nos levam a estudar melhor vários fenômenos,que outrora eram contabilizados como crendices ou sandices.
Uma das importantes diretrizes deste século,por exemplo,é o estudo da projeciologia.
No Brasil,estudos de Waldo Vieira e outros,comprovam inúmeros momento sem que saimos do corpo físico,o que se convencionou denominar de projeção. O IIPC(Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia),promove cursos e estudos profundos.Certa feita,uma de amigas,médica, veio a Belo Horizonte ,fazer palestras no tema e minha querida Ir Josephina,à época octogenária,foi assistire voltou encantada coma nova Ciência-apesar de freira e "antiga",mas de cabecinha muito atualizada.Ela,a primeira pessoa que publicou uma crônica de minha autoria,Mestra de psicologia e Portugues, a quem amo com gratidão...
Muitos entram no "não li(não vi,não conheci,etc)e não gostei,uma das mais renomadas tolices que já se disse."provai de tudo e ficai com o que é bom",aconselhou S.Paulo.E na caballa,sabemos que teremos de prestar contas por tudo que NÃO fizemos ou NÃO conhecemos...
Ferrnando Pessoa,ao se desdobrar em outros autores,todos com histórias definidas,lançou nesses protagonistas,suas ansiedades,frustrações e desejos.Sim,poderiam ser apenas produtos de seu imaginário,da criativa mente de alguém com hipersensibilidade,o que gera sempre,superdefesas. Mas o interessante é verificar que a Poesia foi sua válvula de escape,e para ela canalizou os protagonismos de seus heteronônios.
Quanta força hercúlea,na aparente fragilidade do superego!Imagino como deve ter se sentido,no epicentro desse vórtice,em torno do qual gravitavam suas outras personalidades.
Como psicóloga,sinto atração plenilúnea por essas pessoas que não parecem caber dentro de sua própria história e ,por mecanismo de defesa do ego,se multifacetam,pensando que se multiplicam...
Pessoas de crença espírita,obviamente,interpretam os desdobramentos como lembrares de vidas passadas.
Na década de 70,quando eu fazia crítica literária(*)a Imago Editora especializada em ficção & psicologia enviou-me um interessante livro, de Clesio Quesado:"O Constelado Fernando Pessoa"
Realmente,com tanto brilho,podemos imaginá-lo,sendo,sozinho,uma constelação de poetas...
Clevane pessoa de Araújo Lopes
Belohorizonte,12/06/06
(*)Na Gazeta Comercial de Juiz de Fora e no tablóide de vanguarda Urgente.
Obs:à força das muitas mudanças ou dos amigos do alheio, perdi esse livro-quem sabe encontro outro exemplar no famoso sebo "Livraria Alfarrábio",daqui de Belo Horizonte(r.Tamoios 320 sl 01)?Saí de lá,noutro dia, com "Une femme"(Editora "Presses de la Renaissance"),a história de Camille Claudel,escrita por Anne Delbée-e mais um dicionário de Francês,editado no Porto,em Portugal,para o caso de nãolembrar lá muito bem de algum termo dessa Língua bem amada.
Desde a adolescência,fascinava-me a história dessa escultora,que foi amante de Rodin e era irmã do poeta Paul Claudel.Para ela,fiz muitas poesias.Qualquer dia,postarei aqui...
Mas daqui a pouco,será aniversário de Fernando Pessoa...Voltemos a ele...
Eis um pouco dessa missiva para seu amigo Mário Beirão:
"Estou actualmente atravessando uma daquelas crises a que, quando se dão na agricultura, se costuma chamar "crise de abundância".
Tenho a alma num estado de rapidez ideativa tão intenso que preciso fazer da minha atenção um caderno de apontamentos, e, ainda assim, tantas são as folhas que tenho a encher que algumas se perdem, por elas serem tantas, e outras se não podem ler depois, por com mais que muita pressa escritas. As ideias que perco causam-me uma tortura imensa, sobrevivem-se nessa tortura escuramente outras. V. dificilmente imaginará que a Rua do Arsenal, em matéria de movimento, tem sido a minha pobre cabeça. Versos ingleses, portugueses, raciocínios, temas, projectos, fragmentos de coisas que não sei o que são, cartas que não sei como começam ou acabam, relâmpagos de críticas, murmúrios de metafísicas... toda uma literatura, meu caro Mário, que vai da bruma - para a bruma - pela bruma...
Destaco de coisas psíquicas de que tenho sido o lugar o seguinte fenômeno que julgo curioso. V. sabe, creio, que de várias fobias que tive guardo unicamente a assaz infantil mas terrivelmente torturadora fobia das trovoadas. O outro dia o céu ameaçava chuva e eu ia a caminho de casa e por tarde não havia carros. Afinal não houve trovoada, mas esteve iminente e começou a chover - aqueles pingos graves, quentes e espaçados - ia eu ainda a meio caminho entre a Baixa e minha casa. Atirei-me para casa com o andar mais próximo do correr que pude achar, com a tortura mental que V. calcula, perturbadíssimo, confrangido eu todo. E neste estado de espírito encontro-me a compor um soneto* - acabei-o uns passos antes de chegar ao portão de minha casa -, a compor um soneto de uma tristeza suave, calma, que parece escrito por um crepúsculo de céu limpo. E o soneto é não só calmo, mas também mais ligado e conexo que algumas coisas que eu tenho escrito. O fenômeno curioso do desdobramento é a coisa que habitualmente tenho, mas nunca o tinha sentido neste grau de intensidade... "
Fernando Pessoa
(*)"Abdicação".In "Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação"(Ática).
Imagem:desconheço a fonte. Se alguém souber, porfavor, mande-me.
Se não for de domínio público,retirarei... Clevane
De uma pessoa, para um Pessoa
"Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa a sonhá-lo,
e eu não.\"
(Fernando Pessoa)
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De uma pessoa,para um Pessoa...
Clevane
Tantas pessoa num só Pessoa,
numa pessoa apenas...
para o olho de teu próprio furacão,
converge cada nova persona,
antigas personalidades,
que agora vêm à tona,
uma uma...
Multifacetas tuas faces,
teus aspectos,
qual ímã,atrais a multiplicidade
de tuas inspirações...
E te desdobras,quais tiras de papel,
serpentinas carnavalescas,
que se sobrepõem,sanfonadas,
uma às outras agarradas...
pensas quete multiplicas,
mas te divides,fragmentado
em ti mesmo...
Teu protagonismo é um leque,
unidade feita de varetas...
As facetas têm rasgos
de tua inspiração,
compõem-se no teu imaginário
recameado de estrelas.
És tu próprio,uma constelação (*)
de poetas ,mas todos têm apenas um coração...
Clevane pessoa de Araújo Lopes
13/06/06(meia noite e 14 minutos)
(*)Referência ao título do livro de Clesio Quesado:\"O Constelado Fernando Pessoa\"(Editora Imago)
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Imagem de Pessoa, quando jovem
Ricardo Reis,um dos "Pessoa"
Poema de Ricardo Reis(heterônomo de Fernando Pessoa):
Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra
Nós pomos flores.
Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver.
Mas decorrê-la,
Tranqüilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza...
À beira-rio,
À beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.
O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.
Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.
Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.
Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranqüilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.
Para ver o trabalho da webmaster paola Kaumo, vá a meu site Clevane de Asas:http://br.geocities.com/clevanedeasas/fernandopessoa.htm