Cisnes nas Costas-entrevista a Marcelo Guedes-Rádio CBN
A imagem do cisne a carregar às costas filhote, é para lembrar que os pequeninos necessitam de segurança e paz para um desenvolvimento sadio e que cabe aos adultos de seu entorno, essa responsabilidade.
Da produção da Rádio CBN, Fabiana Arregui, liga-me e diz que querem que eu comente o caso Isabela. Meu primeiro primeiro impulso é dizer não.OA história já sofre uma overdose de exposição da mídia.Quando morre uma criança, a comoção percorre o país, felizmente ainda não vacinado contra a violência.Seqüestros, todavia, embora terríveis ,referem-se a crimes hediondos, sim , mas fala-se de quadrilhas.Não tão raramente há envolvimentos familiares, mas são poucos.Fala-se de pedofilia -e já ouvi , em consultório, mas histórias que gostaria - e Clero fica sob o olhar acusatório das pessoas, vocações são interrompidas, renúncias acontecem.Quando alguém próximo é suspeito, todo omonconsciente coletivo efervece.
Se a madrasta, uma madrasta, a mãe postiça,enviam Joãozinho e Maria para a floresta a fim de que ali sejam abandonadas, um caçador matar Branca de Neve e arrancar-lhe o coraçãozinho por prova, se um menino atravessa noite de inverno a levar uma carta que determina seu próprio assassinato para entregá-la ao algoz contratado, os finais são felizes.Milagrosamente,feéricamente, as crianças são salvas.Nos quartos infantis antigos, era comum um grande quadro, onde um casalzinho de tensa idade atravessa uma perigosa ponte pênsil, um tronco de árvore ,se ver a imagem de um grande anjo, onde a concepção do pintor coloca asas similares às de aves, mas na verdde a representar a grande energia em torno desses seres de luz - a proteger as criaturas.
Ou seja:criança se salva, sempre.Isso dava um grande alívio aos temores infantis.Os pais , avós, babás,contavam a história tétrica, mas de final feliz.
Depois davam um beijo de boa noite.Os mais circunspectos, apenas falavam.Mas a criança adormecia aliviada.Aquilo, acontecia apenas nas histórias , não com crianças de verdade.Ela estava a salvo, em sua caminha.As crianças sempre são salvas e premiadas por vidas melhores nos finais felizes.
Agora, enquanto os pais trabalham , a mídia incha os horários de noticiário com detalhes do crime.
Supostamente, adultos próximos estão envolvidos.
O pai.A madrasta.A palavra é marcada.Há anos, com a multiplicidade de casamentos que acomete a família hodierna, não por falecimento, mas por separação, a criançada aprende a conviver com vários pais e mães além dos biológicos.A namorada po papai, o noivo da mamãe, são expressões comuns.Esses padrastos vêm fazendo de tudo, para parecerem o melhor possível.É a realidade nova;a família nuclear, não dura para sempre.Então, pretendes a pais se esforçam para serem cordatos, melhores mesmo que os pais biológicos-e assim conquistar a pessoa desejada ou as crianças.e/ou.mesmo quando dizem que não desejam substituir os ex-cônjuges dos companheiros, no fundo, ambicionam provar que têm condições de fazer uma nova e melhor família.
Eu sempre digo que procurem ser bons amigos.Isso basta.Não é bom que se fale mal do pai ou da mãe de uma criança ou adolescente .Mesmo que um seja acoolista -uma doença, na verdade, ou que traia, esteja constantemente desempregado, aind assim , biologicamente há laços fortes entre os genitores e suas criaturas.
Sabemos que muitas crianças sentem-se mesmo aliviadas com a separação dos pais.Esses, não são mais um casal, mas são recuperados-e há mesmo uma disputa íntima ou explícita de cada um deles, em separado, querer ser melhor quen o outro.Inicialmente cinfusas, as crianças acabam percebendo ao bônus sobreposto ao ônus da perda no cotidiano:são fins de semanas e férias, presentes, palavras gentis a mais.
No caso em questão, a insegurança pode bater fortemente contra as vidraças do mito de que tudo para criança, acaba bem.Não acaba.Algumas morrem.Madrasta não é bo.Pais ficam ao lado da madrast...muito antes que as suspeitas se confirmem, videntees já dizem que foi ela, acobertada por ele, especulações são ventiladas nos salões de beleza.Professores e alunos discutem a casuística.
Crianças começam a ter medo.Pânico, terror noturno.Mães que confiavam seus filhosáos cônjuges e suas novas parceiras, começam a duvidar se será seguro.Passam também a não dormir.
Os fantasmas que atormentam as crianças são muitos.Uma coisa é assistir desenhos animados onde figuras animadas são amassadas e desamassam-se par continuar em fuga,lutas orientais de clarles Chan...
lembro-me que há anos, quando eu clinicava em S.Luiz , maranhão, passou na TV um clip onde Michael Jackson enquanto cantava e dançava , transformava-se, paulatinamente, em um monstro verde.No outro dia, cinco mães levaram filhos pequenos a meu consultório, apavoradas, dois tendo mostrado sinais de terror noturno-não a patologia, mas um pavor intenso, acompanhado de todas as somatizações:taquicardia, sudorese - das inquietação psicotoras...E, durante a semana, recebi outras.Isso, nos anos 80.No terceiro milênioo, jpa de retorno a Belo Horizonte,eu conversava com um futuro paciente que sofria de insônia, quando ele, adulto bem realizado, contou-me sobre essa experiência, tida na infância :anos depois, ainda tinha pesadelos com...Michael Jackson.
A repórter explica-me que a entrevista será sobre "como fica a cabeça das crianças ante o caso".Sendo assim, concordo.Pois respeito muito a CBN e quem vai entrevistar-me é Marcelo Guedes, repórter que me deixa falar, e faz perguntas inteligentes.
Conto a Fabiana que , quando retornei de Belém , a CBN entrevistou-0me sobre regressão a vivências passadas e que trinta pessoas me ligaram e ficaram esperando que eu abrisse um consultório, para serem atendidas.Não esquecerei a dívida de gratidão.
Daqui a pouco, estarei na 106.1, aqui em Belo Horizonte, conversandoi sobre esse triste assunto e suas coinseqÜências nas cabecinhas verdes de nossas crianças e que atitudes deverão ter pais e "padrastos" a partir de então.
O mmedo infantil, se não bem sanado, é carregado na alma.Somos caracóis humnanos e na casa às costas, nossa casa mental, a criança que fomos sempre está presente...
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
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