Luiz Lyrio:Há QUARENTA ANOS - UMA BALA QUASE DERRUBA DITADURA
O Professor Luiz Lyrio(*), com mais de trinta e cinco anos de magistério e já aposentado, conta, neste texto abaixo,um episódio,que hoje faz 40 anos:
Há QUARENTA ANOS - UMA BALA QUASE DERRUBA DITADURA
(...)e pela paz derradeira
que, enfim, vai nos redimir,
Deus lhe pague.
(Chico Buarque de Holanda)
P Prefessor Luiz Lyrio, com mais de trinta e cinco anos de magistério e já aposentado, conta, neste texto abaixo,um episódio,que hoje faz 40 anos:
No dia 29 de março de 1968, cheguei de manhã ao Colégio Estadual Central completamente desinformado. Morava num quarto alugado numa pensãoo na Rua São Paulo, onde passara o dia anterior lendo um livro e alguns documentos da Ação Popular (AP), organização de esquerda à qual pertencia. Naquela época, eu estava sempre um tanto "por fora" dos últimos acontecimentos, já que não tinha rádio nem televisor e, além disso, desprezava jornais e revistas, os quais eu considerava meros reprodutores da propaganda ideológica da ditadura militar.
As primeiras pessoas que encontrei, ao chegar ao Estadual, foram os militantes ligados aos dirigentes do Diretório Estudantil, que, na época, estava nas mãos de uma aliança envolvendo vários partidos rivais da AP, entre eles, o "Partidão" (PCB) e a POLOP. O Amílcar, na época do Partidão não perdeu a chance de me recriminar, depois de perguntar o que nós, da AP, pretendíamos fazer diante dos últimos acontecimentos e eu lhe perguntar quais acontecimentos. "Então, você não sabe o que aconteceu?", questionou o Amilcar. "Não. O quê?", indaguei. "Mas que vergonha! Um militante político tem que acompanhar tudo o que acontece no país! Só podia ser da AP mesmo... Um estudante secundarista foi assassinado! Num restaurante estudantil do Rio, a polícia atirou e matou um estudante secundarista, o Edson Luís! Poxa, cara! Cê tem que ler jornais, tem que estar bem informado!". Após aceitar calado o "puxão de orelhas" do Amílcar, procurei o pessoal da AP e, junto com as lideranças ligadas ao DE, paralisamos as aulas e organizamos uma grande passeata, que percorreu as escolas próximas, convocando seus estudantes, que aderiram em massa "nossa manifestação".
A morte de Edson Luís atiçou a revolta geral da sociedade, não só porque vivíamos sob uma ditadura que revelava suas garras mesmo para os brasileiros mais alienados, mas também porque esse tipo de violência, em que um policial em serviço mata um inocente, não era tão freqüente e tolerada pela sociedade brasileira, como nos dias de hoje. De 28 de março até o segundo semestre de 1968, o movimento estudantil mineiro experimentou uma ascensço com grandes manifestações que tiveram seu ponto máximo na passeata dos dez mil, a maior mobilização política ocorrida até então em BH, só superada nos anos oitenta com a mobilização pelas "Diretas Já".
Edson Luís de Lima Souto não era um militante político. Era um jovem paraense de dezoito anos que viera para o Rio de Janeiro tentar uma vida melhor. Mas seu nome ficará na história desse país, como o mártir de um regime violento, responsável por um grande atraso no amadurecimento político do povo brasileiro.
Luiz Lyrio
20Mar2008 - 11:51
QUEM é LUIZ LYRIO
"Professor e escritor, Luiz Lyrio é natural de Belo Horizonte. Formado em História pela UFMG, lecionou durante trinta anos em várias escolas das redes pública e particular. Escreveu os livros GRÊMIO LIVRE: UM EXERCÍCIO DE CIDADANIA (1998), NOS IDOS DE 68 (2004), MARCAS DE BATOM (2OO4) e ABDUÇÃO (2007). Entre 1998 a 2002, produziu um vídeo sobre Grêmios Estudantis e proferiu palestras sobre o assunto em várias escolas. Em 2005, por sua crônica "ALICE NO PAÍS DAS ARMADILHAS", foi agraciado com o PRÊMIO DESTAQUE no V Concurso Rubem Braga de Crônicas (Cachoeiro do Itapemirim - ES). Em 2006, teve seu conto "PARA QUE CAMINHAR?" classificado em sexto lugar para publicação em livro no CONCURSO LITERÁRIO FLIPORTO - 2006 (Porto de Galinhas (PE)). Em maio de 2007, lançou o livro de contos ABDUÇÃO, comemorativo dos seus trinta e cinco anos de profissãoo. No segundo semestre de 2007, destacou-se em três concursos literários de âmbito nacional. No II Concurso Claudionor Ribeiro de Contos, promovido pela Academia Cachoeirense de Letras (Cachoeiro do Itapemirim - ES) Lyrio foi agraciado com o prêmio MENÇÃO HONROSA na categoria Contos. Já no VI Prêmio Literário Livraria Asabeçaa - 2007 (São Paulo - SP), com seu conto CORPO FECHADO, foi classificado para participar de antologia a ser lançada pela Scortecci Editora. E, ainda em 2007, Luiz Lyrio recebeu Menção Honrosa por seu conto PASSAGEM DE ANO no quinto Concurso Guemanisse de Contos e Poemas".
(*) Enviado pelo autor.
Leia outros textos de Luiz Lyrio, em:
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1 Comentários:
Quando iniciava uma prosa com esse poeta, ele veio a falecer. A finitude, ninguém escapa. Como disse Walt Whitman, seremos adubos para fazer brotar a relva.
J Estanislau Filho
www.jestanislaufilho.prosaeverso.net
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