domingo, 22 de novembro de 2009

ESQUECIMENTOS- Andreia Donadon Leal


Fonte da imagem:cerebroeciencia.files.wordpress.com/2007/11/


ESQUECIMENTOS



Andreia Donadon Leal





Há remédios para esquecimentos súbitos? Esquecimentos banais, de apanhar a roupa no varal, deixando-as na tempestade; de conferir os documentos, principalmente a carteira de motorista e de repente ser abordado em uma blitz; de pagar o cartão de crédito, de abrir as correspondências e assim ser surpreendido ao fazer uma compra, pois seu nome foi incluído no SPC. Que “carão” na hora em que a vendedora, com um sorriso amarelo, fala:

- Seu cartão e seu cheque não foram aceitos. Tivemos que consultar o Serviço de Proteção ao Crédito e seu nome está constando em nossos dados. Sinto muito!

Esquecimentos reversíveis, mas mesmo assim, estressam nosso dia-a-dia; a correria desenfreada, o acúmulo de funções para dar conta do recado. Não há corpo e mente de ferros que suportam excessos: compromissos, agenda lotada, multiplicidade de afazeres. Até a máquina, se sobrecarregada, funciona mal, dá defeitos. Levantar cedo, acordar os filhos para a escola, preparar o desjejum, tirar o carro da garagem, deixar o filho mais velho no colégio, o outro em uma creche e ainda ter tempo de chegar pontualmente ao trabalho. Os minutos e os segundos têm que ser precisos e não podem ser modificados. O trajeto é contínuo e a mente está treinada para isso. Na hora do almoço: buscar os filhos, levá-los para a casa; almoçar, tudo milimetricamente cronometrado. E por aí vai; a rotina massacrante, fazendo-o correr no ritmo de atletas, com um diferencial, você não é um atleta. O corpo sente; a cabeça, às vezes, chega a uma carga de estresse tão grande que além dos esquecimentos banais, surgem alguns que jamais poderiam aparecer.

“Uma mãe esquece o filho na escola. Um pai esquece o filho em um carro”. Alguns esquecimentos viram tragédia e pesadelo. Essa semana a primeira notícia de um jornal televisivo: “hoje um bebê de seis meses morreu dentro de um carro. A mãe esqueceu-se de tirá-lo e só lembrou após cinco horas. Por quê? Por que mudou a rotina. Ao invés de deixar o filho mais velho por último no colégio e seguir para o trabalho como de costume, o trajeto foi invertido. O bebê morreu asfixiado e com queimaduras”... Esse não é um caso isolado no país. Não nos cabe julgar o esquecimento da mãe. Ela carregará essa dor lancinante para o resto de sua vida. O que podemos evitar é essa correria alucinante, brutal e sem paradas. Esquecimentos todo mundo tem e não cabe a ninguém atirar a primeira pedra. A multiplicidade de funções devido às necessidades financeiras e outras podem afetar nossas ações diárias, nos fazendo correr cada vez mais, ficar mais automatizados como robôs ou um GPS e esquecer-nos das adaptações de que foram feitas e pensadas ontem mesmo. Aí está o perigo, quando somos obrigados por uma fatalidade a ter que parar bruscamente a correria e a perceber que estávamos tão robotizados e cegos que nos esquecemos de apertar a tecla “modificar”, ir mais devagar, pois o mundo não vai cair em nossas cabeças, se caminharmos com mais cautela e atenção, quando nossa rotina sofre mudanças repentinas, quem sabe algum atraso no trabalho ou nos compromissos. Inadiável, a vida ou a morte?




Andreia Aparecida Silva Donadon Leal - Deia Leal

Diretora do Jornal Aldrava Cultural

Governadora do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais-Minas Gerais

(31) 8431-4648

Telas: http://deia-leal.artelista.com/

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