sábado, 21 de março de 2009

Lavadeirinhas



CLEVANE DE ASAS


Lavadeirinhas
Clevane Pessoa

Para amenizar a lida,
as lavadeiras de Minas
lavam cantando demais
o que lhes vai pela vida...

Rezam louvando a Maria,
cantarolam seus amores,
em coro choram suas dores,
sérias, mostram sua alegria,,,

Nas pedras batem os panos,
às vezes soltam risadas
enquanto dão suas braçadas,
as mesmas de tantos anos...

Às vezes, roupas perseguem,
que lhes fugiram das mãos,
os peixes são seus irmãos
por mais que os peixes o neguem...

Velho Chico, um grande rio,
acostumado às cantigas,
vê nelas grandes amigas,
a ninar seu passadio...

Os passarinhos se intrigam:
de que penas são tais vozes,
cantando lentas, velozes,
que sobre as margens se abrigam?

No Jequitinhonha, do Alto
cantam tanto as de Almenara,
que seu coro, qual jóia rara,
está num CD bem lauto...

Cantavam as ribeirinhas,
em Portugal, no passado,
e ao vir prá cá, com agrado,
trouxeram suas musiquinhas...

Por isso cantam as baianas
quando lavam na Abaeté,
linda lagoa - e com fé,
rezem sagradas, profanas...

Sobre madeira flutuante
- cada mulher tem seu porto
por questão de mais conforto
a cabocla lava expectante:

vigia se o boto aparece,
peixe em moço tranformado,
um sedutor encantado
(senão a barriga cresce)...

As roupas brancas clareadas
à luz do sol, clareador,
ficam alvas, sim senhor
e depois serão engomadas...

São lindas as lavadeiras,
em belas coreografias
ensaiadas todos dias,
dançam e cantam faceiras

E esse show, sem ser ensaiado
toca qualquer coração,
pois corpos, braços, sabão,
são um todo sincronizado...

Que cantem sempre, avezinhas:
desaparecem os cansaços
nas canções alegrezinhas
que são seus melhores traços!...

Trovinhas Arcaicas
Rosa Magaly Guimarães Lucas
- Eire

Ver tanta quadrinha linda,
Fez chorar meu coração,
Ao lembrar Vovó Arminda
Cantando-me essa canção:

-“Nossa Senhora,
Na beira do rio,
Lavava os paninhos
De seu bento fio.

Nossa Senhora lavava,
São José estendia,
E o menino chorava,
Do frio que fazia”.

Lembrei das noites de frio
De onde eu nasci, Barbacena;
Também das manhãs de estio
Na beira-rio serena

Sempre ouvia as lavadeiras
Com seus cantares de Minas,
Roupa a "quarar nas toiceiras”,
Olho vivo em suas meninas.

... E as águas do rio passavam
P’las lavadeiras supimpas,
Que quanto mais esfregavam
Deixavam as roupas mais limpas.

As Borboletas buscavam
Uma flor para pousar;
“Lavadeirinhas” passavam
Pelas águas a raspar.

Nas árvores passarinhos
Pousados a pipilar,
Faziam sons bonitinhos
P’ra lavadeira escutar.

Cada lavadeira tinha
Seu pontinho reservado,
E sonhava a pobrezinha,
Com seu Príncipe Encantado;

Aquele que nunca vinha,
Ai, meu Deus, ai quem me dera,
Cantava a lavadeirinha,
Mas era tudo quimera.

Agora, me surge a Nana,
Moça bonita, brejeira,
Que era morena e baiana,
Ah, meu Deus, que pasmaceira,

“Creditô” no Binidito,
Pois mais que a gente falasse;
O moreno era bonito,
Posudo e cheio de classe.

Passado uns tempos Maria
‘tava com barriga d’água.
Como Vovó me dizia,
Co’ os olhos cheios de mágua.

Passado uns meses vim embora
Com meus pais... vim para o Rio;
Mas me lembro até agora
Daquelas manhãs de estio

Lá na beira do regato
Onde tinha um ingazeiro,
E tenho até um retrato
Desse recanto mineiro.

Jacaraípe, Serra, Espírito Santo,
30 de novembro de 2004.

Lavadeira
Maria Petronilho

Lavadeira pobrezinha
Que lavas roupa no rio
Com água pelo joelho
Mesmo tremendo de frio

Ai tantas rendas que passam
Pelos teus dedos de seda
E tu, lavadeira, nem botas
Nem lenço sobre a cabeça!

Quantas peças tinha o rol
Que recolheste à tardinha?
Cada peça a um vintém,
Lavadeira pobrezinha....

Coram anáguas tão ricas
Na erva verde da margem
Crias teus filhos das côdeas
Que sofres, mulher coragem!

3.12.2004


Lavadeiras
Sônia Maia

Lá no rio, as lavadeiras,
A cantar e lavar roupas
Em baixo das laranjeiras.
Lavam muitas, lavam poucas!

Sempre lavam a cantar
A canção das lavadeiras,
Cantam para se alegrar
As canções que são faceiras!

Batem a roupa na pedra
Para a limpeza aumentar
Não temem trabalho medra.
Gostam de ficar a lavar.

O rio espera sorrindo
As lavadeiras chegar,
Chora ao vê-las partindo
Com saudade do seu cantar.

Recife, 04/12/04

LAVADEIRA
Nilson Matos Pereira

Cedinho ainda, logo que amanheça
A lavadeira trouxa, na cabeça
Caminha pela estrada, deixa o lar
E busca o açude, eis que a água é pouca
E numa pedra bate como louca
A roupa que carrega pra lavar

E bate e bate e bate a lavadeira
Às vezes canta que é pra se animar
A roupa sobe e desce e à primeira
Mais lavadeiras surgem pra lavar

As peças não são delas, mas dá gosto
Ouvir a cantoria e ver o rosto
De cada lavadeira batucando
Espuma vai formando lençóis brancos
Água carrega, bate nos barrancos
Enquanto a criançada vai brincar

E bate e bate e bate a lavadeira
E geme a pedra sem se machucar
Está tomada agora a ribanceira
É ganha pão pra quem quer trabalhar

Enquanto isso, aqui, linda cidade
Nem mais açude há, barbaridade!
Mulher de tudo faz, fora do lar
A máquina ensaboa, bate e lava
Aquela espuma branca que encantava
Vai pelo cano e perde-se no mar

Araranguá (SC), 061204

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Meu poema Lavadeirinhas, foi publicado em poster, feito por Marco Llobus, e vem sido distribuido em eventos ou enviado a amigos pelo Correio.

Em meu site Clevane de Asas, feito por Paola Caumo, ele está publicado, seguido por outros poemas, de amigos (acima).

O endereço do site:http://br.geocities.com/clevanedeasas/lavadeirasemvoo.htm

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