quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A geladeira trouxe a fome...


João carlos Arantes é muito conhecido em Juiz de Fora, onde vivi na infância e voltei adolescente, onde morei até casar-me, na primeira vez, fomos morar no Rio.Na segunda, saí de lá em 1979 e somente retorno a passeio.mas minha juventude lá, foi intensa:trabalhava em jornal e desenvolvia as lidas literárias, pertencia ao NUME e à UBT/JF, que presidi.
Conhecia o Dr.Arantes de nome-era o parteiro de minha mana Cleone.Depois, pela Internet, trocamos muita divulgação para impedir que a mata do Krambeck fosse derrubada para a criação de um condomínio de luxo.
Trocamos text9os e até hoje, não o conheço pessoalemnte.

Hoje, li esse texto enviado e imediatamente quero partilhá-lo:quem tiver um mínimo de sintonia, por certo vai entender porque o médico ecologista quis reenviar o texto do frei beto (com esse também troquei umas cartas nos Anos 60, os pesados "Anos de Chumbo":àquela época, não havia e-mail...)

jcarantes para dalai_lama



"Alguma destas idéias tornam-se "proibitivas" numa consulta médica que tenha como grande objetivo defender a tese de que é muito mais "lucrativo" preservar a saúde do que tentar a cura.

Repasando.


Amigos, para continuar a reflexão: nos links um clip que gostei.
Achei-o muito bem feito e que dá uma visão geral do que vem acontecendo.



Quem não viu ainda, não pode deixar de ver:
http://www.unichem.com.br/videos.php

http://www.storyofstuff.com/

Arantes:

Os supermercados são, por sua própria natureza, anti-ecológicos.
São partes de uma cadeia baseada nas grandes monoculturas, que destroem as
biodiversidades, que enfraquecem os pequenos agricultores, concentrando o
alimento do mundo na mão de poucos empresários. Nessa cadeia, do lavrador
ao empacatador de compras, todos ganham uma miséria, além de haver um
desperdício enorme de alimentos, pelo enorme número de atravessadores.
As ações de responsabilidade social e ambiental das grandes empresas são,
em geral, expressões de uma ideologia que quer desviar a nossa atenção das
perversidades que praticam.
O Le Monde Diplomatique Brasil do mês de dezembro tem vários artigos sobre
o consumismo. Vale a pena lê-los.
Segue abaixo um texto do Frei Betto.
Um abraço,
Marcos


Consumo, logo existo .Frei Betto Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza,ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas ehortaliças. "Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse.

O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes,sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável. É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais -manipular o alimento que ingere.

A refeição exige preparo, criatividade, ea cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico.A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesacoberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e,sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais. Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis.

Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos "Manuscritoseconômicos e filosóficos" (1844), ele constata que "o valor quecada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens". Portanto, em si o homem não tem valor para nós." O capitalismo de talmodo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos.As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam équedeterminam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco ovalor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão. Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas,tem alma.

Em comunidades tradicionais de África também se encontra essainteração matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígine cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém.Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia? Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife.Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, esim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famos o estilista a gata borralheira transforma-se em cinderela...

Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberalnos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como umabendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, dopoder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos umaaura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração,depressão, infelicidade. Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna tambémobjeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.

Comércio deriva de "com mercê", com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadaspelas pessoas.Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre ovendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações devizinhança, como ainda ocorre na feira. Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados.

Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. "Nada poderia sermaior que a sedução" - diz Jean Baudrillard - "nem mesmo a ordem que adestrói."E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair dacadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja. Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas econtemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo. Olham-me intrigados. Então explico:Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediadopor vendedores como vocês, respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".

(Sabem porque coloquei um entreparênteses com o autor - Frei Beto? Vários dos meu endereçados não leriam, imaginando: "lá vem o Arantes com aquela baboseira dele de meio ambiente e ortomolecular!")

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