terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Neres-Quando o verde dos teus olhos



Foto:créditos de André PI Araújo-enviada por Nádia Massiakov.

Tenho um e-book com Neres, chamado Pássaros de papel em Nuvens de Algodão.
Pássaros de papel são os poemínimos dele.Nuvens de Algodão, os meus minipoemas.
O dele já fez carreira solo em papel (Projeto Dulcinéia catadora, muito interessante, para o qual os poetas doam seus poemas, os prosadores seus textos e são então editados livros a baixo custo, com capas reciclidas (desenhadas pelos filhos dos catadores de papel em SAMPA.
No momento, ocupa-se, esse jovem cineasta, de "Outros Silêncios".


Dele, essa bela prosa poética:



Quando o verde dos teus olhos

josé geraldo neres



A estiagem prolongou-se levando o brinquedo preferido. O Mandacaru alimenta e fere os olhos verdes da inocente infância. Lágrimas secas rolam de semblantes amarelos. A esperança é uma nuvem d’água, mas essa migrou para um povoado distante.



O alazão voador está aprisionado no solo ressequido, seu olhar pede um pouco de carinho - não consigo mais sonhar.



Meus amigos brincam de esconde-esconde, uns na jardineira engolidora de pais e, enquanto aos outros, a fome fechou os olhos.



Zezinho e Antônio são companheiros de caminhada para a escola – e esta é nossa única sombra de um futuro melhor.



Na volta da aula uma momentânea alegria me acalma. Perco-me propositadamente de meus colegas e sigo Ana: flor que nunca vi, a estranha e mais bela nestes sertões. Seu perfume é só meu. Para minha sorte, eles a ignoram.



Nossa caminhada é prazerosa, embora o tempo imponha seu curso impiedosamente: sol, mugido de gado extinto.





Ana me carrega e seu sorriso brilha como uma manhã nunca vista. Promete desvendar-me seu segredo, assim que chegarmos em sua morada. O caminho parece diferente, as aventuras ficaram para trás.



Debaixo de uma grande árvore, com galhos de folhas mortas, ela revela de forma enigmática:

– Voltarás a sonhar. O teu caminho será verde. O céu te dará asas. Amanhã não voltarei.



Naquele dia de setembro, como em muitos outros dias do ano, Zezinho e Antônio foram à minha casa. A notícia dada por minha mãe não os assustou, fazia parte do cotidiano da região:

– Ele só esperou a primavera, parece estar sonhando.



O silêncio apoderou-se de meus amigos e assim se retiraram de casa.



De volta à peregrinação, Antônio acrescentou:



– Aquela flor que ele segurava, eu nunca vi aqui no sertão.




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http://www.palavreiros.org/josegeraldoneres.htm

José Geraldo Neres

Rua Jaú, 34 Vila América,

Santo André, SP, Brasil.

CEP: 09121-380



e-mail: jgneres@uol.com.br

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