terça-feira, 18 de novembro de 2008

Pernambuco-Dia estadual do Cordel



Imagem:Capa de "Lampião não era tão cão como se pinta", de Rodolfo Cavalcante(*)


CAVALCANTE, Rodolfo Coelho. Lampião não era tão cão como se pinta. Capa com xilogravura de Jussandir Raimundo Souza (JRS). Salvador: [s.n.], 1982. 8 p.

Disponível em:
http://www.funceb.ba.gov.br/phl8/imagens/biblioteca/lampiaonaoerataocao5.jpg





O poeta Jorge Fió convida para o dia estadual do Cordelista, em Pernambuco.
Deveria haver um nacional, seguindo o exemplo.
Envio para tadeu martins, cordelista mineiro e Gustavo Dourado, que mora em Brasília e ainda para Alexandro Santos, da UBE-que já deve estar a par.
Vida longa ao cordel!

Clevane Pessoa de Araújo Lopes




"Amigos,

Nesta quarta-feira, 19/11, a Unicordel-União dos Cordelistas de Pernambuco, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco-FUNDAJ, Editora Coqueiro e Comissão Pernambucana de Folclore, estará comemorando o DIA ESTADUAL DO CORDELISTA, estabelecido pela lei 12958, de 20-12-2005. O evento acontecerá na FUNDAJ-APIPUCOS(Rua Dois Irmãos, 92) e contemplará as seguintes atividades:

10:00 - Lançamento do cordel Beabá do Baobá, de Ernando Carvalho (Editora Coqueiro), com plantio de muda desta planta de origem africana

10:30 - Exibição de documentários sobre poesia popular

14:00 - Seminário "Cordel, Mídia e Educação", com os pesquisadores Maria Alice Amorim, Ésio Rafael e Margarete Grillo

17:00 - Recital da Unicordel

Além dessas atividades, haverá exposição de xilogravuras, de folhetos da Biblioteca da Fundaj e feira de produtos culturais (cordel, xilogravuras, livros, cds, artesanato, etc.)

Contamos com a presença de todos.

União dos Cordelistas de Pernambuco-Unicordel
Informação: 3073-6508 - 99103445

E para pesquisadores:


A história da Literatura de Cordel

por A. A. de Mendonça


Nas feiras do Nordeste, é muito comum encontrar-se bancas onde são vendidos folhetos - escritos geralmente em versos (sextilhas, septilhas ou décimas) - e que tratam dos assuntos mais variados. Estes folhetos caracterizam a nossa literatura de cordel.
Na sua grande maioria são romances que contam estórias com a intenção de entreter ou "versos de opinião", que criticam fatos ou pessoas. É muito comum também encontrar-se alguns que reproduzem desafios, contam as aventuras de Lampião ou a vida do Padre Cícero ou Frei Damião.
Sob uma outra visão, podemos dizer que o Cordel é também o jornal nordestino. Os desastres, as inundações, as secas, os cangaceiros, as reviravoltas políticas, alimentam o caráter jornalístico dessa produção, que chega a centenas de títulos por ano.
Para que se tenha uma idéia dessa função jornalística, basta lembrar que quando Getúlio Vargas morreu, um dos poetas de cordel, mal ouviu a notícia pelo rádio, começou a escrever "A lamentável morte de Getúlio Vargas". Entregou os originais ao meio dia e à tarde recebeu os primeiros exemplares. Vendeu 70.000 em 48 horas.
Outro assunto que teve grande repercussão foi "O trágico romance de Doca e Ângela Diniz". A "Carta do Satanás a Roberto Carlos" também teve grande sucesso, inspirado na música que dizia "E que tudo mais vá pro inferno!"
Assim, a literatura de cordel, tanto pela sua parte poética, como pela arte da xilogravura, constitui uma das mais interessantes expressões da arte brasileira.
Inspirada na literatura francesa de colportage, nos romances e pliegos sueltos ibéricos e na própria literatura de cordel portuguesa(*), a nossa Literatura de Folhetos (ou de Cordel) nasceu e desenvolveu-se no nordeste brasileiro, contando as sagas e a sabedoria do povo sertanejo. Atualmente, esta manifestação popular pode ser encontrada em diversos pontos do país (e não mais só nas feiras do Nordeste), sempre incentivada pelas comunidades nordestinas.

(*) A literatura de cordel teve sucesso, em Portugal, entre os séculos XVI e XVIII. Os textos podiam ser em verso ou prosa, não sendo invulgar tratar-se de peças de teatro, e versavam os mais variados temas. Encontram-se farsas, historietas, contos fantásticos, escritos de fundo histórico, moralizantes, etc., não só de autores anônimos, mas também daqueles que, assim, viram a sua obra vendida a preço baixo e divulgada entre o povo, como Gil Vicente e Antônio José da Silva, o Judeu. Exemplos conhecidos de literatura de cordel são História de Carlos Magno e dos Doze Pares de França, A Princesa Magalona, História de João de Calais e A Donzela Teodora. Algumas tinham origem espanhola, francesa ou italiana, sendo depois adaptadas ao gosto português.

Segundo os pesquisadores, o primeiro folheto de cordel brasileiro foi publicado na Paraíba por Leando Gomes de Barros, em 1893. Acredita-se, entretanto, que outros poetas tenham publicado antes, como Silvino Pirauá de Lima.
As primeiras tipografias se encontravam no Recife, e logo surgiram outras na Paraíba, na capital e em Guarabira. João Melquíades da Silva, de Bananeiras, é um dos primeiros poetas populares a publicar na tipografia Popular Editor, em João Pessoa.
Apesar dos altos índices de analfabetismo, a popularização da literatura de cordel foi possível porque os poetas cordelistas contavam suas histórias nas feiras e praças, muitas vezes ao lado de músicos. Os folhetos eram pendurados em barbantes (daí o nome Cordel) ou amontoados no chão, despertando a atenção dos transeuntes. Cabe ressaltar que as feiras nordestinas eram verdadeiras festas para o povo do sertão, nas quais podiam, além de comprar e vender seus produtos, divertir-se e se inteirar dos assuntos políticos e sociais.
Os folhetos, confeccionados em sua maioria no tamanho 11x15cm ou 11x17cm e, em geral, impressos em papel de baixa qualidade, tinham suas capas ilustradas com xilogravuras na década de 20. Já nos anos 30 e 50, surgiam as capas com fotos de estrelas de cinema americano. Atualmente, ainda mantêm o mesmo formato, embora possam ser encontrados em outros tamanhos Quanto à impressão, substituindo a tipografia do passado, hoje também são usadas as fotocópias.
Contudo, as características gráficas e temáticas dos folhetos podem variar de acordo com o deslocamento da área de atuação do poeta que, muitas vezes, se depara com um público de concepções e comportamentos diferentes aos do matuto nordestino. Exemplo disso é o cordelista Raimundo Santa Helena, tema de mestrado na UFRJ e um dos expoentes hoje da Literatura de Cordel. Paraibano radicado no Rio de Janeiro, Santa Helena mantém, em sua produção literária, o ideário e sensibilidade das composições poéticas dos folhetos nordestinos, e empenha-se, principalmente, em derrubar o mito de Virgulino Ferreira, o Lampião, que teria assassinado seu pai e violentado sua mãe em 1927.

A origem talvez seja alemã...

Dois ilustres folcloristas brasileiros, Luís da Câmara Cascudo e Manuel Diéges Júnior, escreveram sobre a origem da nossa literatura de cordel; Cascudo, em vários ensaios e livros, sobretudo no seu "Vaqueiros e Cantadores" e "Cinco Livros do Povo", e Manuel Diéges Júnior especialmente no ensaio "Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel" mostraram a vinculação dos folhetos de feira, a partir do século XVII, com as "folhas volantes" ou "folhas soltas", em Portugal, cuja venda era privilégio de cegos, conforme informava Téofilo Braga.
Na Espanha, este mesmo tipo de literatura popular era chamado de pliegos suletos, denominação que passou também à América Latina, ao lado de hojas e corridos. Tal denominação é ainda corrente na Argentina, México, Nicarágua e Peru. Segundo a folclorista argentina Olga Fenandéz Lautor de Botas, citada por Diéges Júnior, estas hojas ou pliegos sueltos, divulgados através de corridos, envolvem narrativas tradicionais e fatos circunstanciais - exatamente como a literatura de cordel brasileira.

Na França, o mesmo fenômeno correspondia à littèratue de colportage - literatura volante, mais dirigida ao meio rural, através do occasionnels, enquanto nas cidades prevalecia o canard. Na Inglaterra, folhetos semelhantes aos nossos eram correntes e denominados cocks ou catchpennies, em relação aos romances e estórias imaginárias; e broadsiddes, relativamente às folhas volantes sobre fatos históricos, que equivaliam aos nossos folhetos de motivações circunstanciais, chamados "folhetos de época" ou "acontecidos".
Também há notícias sobre folhetos de cordel, no século XVII, na Holanda, como nos séculos XV e XVI, na Alemanha
Na Alemanha, os folhetos tinham formato tipográfico em quarto e oitavo de quatro e a dezesseis folhas. Editados em tipografias avulsas, destinavam-se ao grande público, sendo vendidos em mercados, feiras, tabernas, diante de igrejas e universidades. Suas capas (exatamente como ainda hoje, no Nordeste brasileiro), traziam xilogravuras, fixando aspectos do tema tratado. Embora a maioria dos folhetos germânicos fosse em prosa, outros apareciam em versos, inclusive indicação, no frontispício, para ser cantado com melodia conhecida na época.
Já a respeito dos panfletos holandeses ("pamflet", em holandês) do século XVII, os temas tratados eram políticos, econômicos, militares, quando não são terrivelmente pessoais. Um relativo à Guiana, então holandesa, relata um crime, no qual estão envolvidos personagens que vieram em Pernambuco. Há em versos, mais a maioria é em prosa, sendo freqüente a forma de diálogos ou em conversas entre várias pessoas. Uns só de uma folha; a maioria contém entre 10 a 20 páginas, em tipo gótico. Tudo isso mostra à evidência que, embora tenhamos recebido a nossa literatura de cordel via Portugal e Espanha, as fontes mais remotas dessa manifestação estão bem mais recuadas no tempo e no espaço. Elas estão na Alemanha, nos séculos XV e XVI, como estiveram na Holanda, Espanha, França e Inglaterra do século XVII em diante.
No Brasil - não mais se discute - a literatura de cordel nos chegou através dos colonizadores lusos, em "folhas soltas" ou mesmo em manuscritos. Só muito mais tarde, com o aparecimento das pequenas tipografias no fim do século passado, a literatura de cordel surgiu e se fixou no Nordeste como uma das peculiaridades da cultura regional.

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Poesia narrativa, popular, impressa

Num ciclo de estudos sobre literatura de cordel, realizado em 1976, em Fortaleza, sob o patrocínio da Universidade Federal do Ceará, indagaram ao prof. Raymond Cantel, da Sorbonne, grande estudioso do assunto, qual seria a definição mais compacta que se poderia dar do cordel. Seria apenas - perguntamos - poesia narrativa, impressa? Imediatamente, ele complementou: Popular. Então, aqui está a mais reduzida, a mais simples definição sobre cordel: Poesia narrativa, popular, impressa. Todo o acervo da literatura de cordel - cerca de quatorze mil folhetos publicados, para Átila de Almeida, embora outros estudiosos ampliem esse número - não tem sido outra coisa sequer isto: poesia narrativa, popular impressa. De maneira que, qualquer outra manifestação semelhante ao cordel, cujo conteúdo divirja deste trinômio, deve ser apreciada com reserva. Não é poesia de cordel autêntica. Só existe uma maneira de identificar o cordel legítimo: é através da análise da ideologia que ele reflete. O poeta popular nordestino é conservador, por excelência. Há que examinar detidamente cada conteúdo dos folhetos, através da linguagem e das idéias que ali transparecem com espontaneidade.
Em geral, o poeta popular nordestino é católico ortodoxo. É amigo do vigário, defendendo-o em todo o sentido. Por sua vez, os padres prestigiam a tarefa dos poetas populares, quando não a exploram. O poeta popular é sempre a favor do governo. Há mesmo um célebre ditado que diz: "Contra o governo, rio cheio e pomba dura..."

Fonte:http://www.camarabrasileira.com/cordel01.htm

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(*) O trovador e cordelista Rodolfo Cavalcante , de Jequié, Bahia,correspondia-se com meu avô Luiz Máximo de Araújo,jornalista paraibano, depois que ele ganhara algum dos concursos que Rodolfo lançava.Não havia Internet, era a época dos Correios.Peroto da escada de mamãe, havia um certificado assinado pelo Rodolfo.Depois da morte dela, não mais sei onde anda o quadrinho.

Meu avô ensinou-me , menina ainda, a arte de metrificar e rimar.

Mais tarde, quando eu era mocinha e trabalhava na Gazeta Comercial, em Juiz de Fora, passei a corresponder-me com Rodolfo e uma vez , ele pediu-me que fizesse capas para alguns de seus cordeis.Eu não sabia xilogragravura, mas "mandei ver", a bico de pena.
Ainda tenho a carta entusiasmanda do cordelista, muito feliz com o que criei.Lembro que uma das figuras era um touro, outra do demo, mas não lembro muito mais mais .

Sempre respeitei os mais velhos, gostava de beber na fonte da experi~encia.

E quando passava, nas férias, de carro, com meu marido, por Jequié, depois de ver a grande estátua de S.Jorge,da estrada, não tiunha coragem de pedir que entrasse na cidade, pois ele, engenheiro, era cronometrador rigoroso de trajetos -e tínahmos de chegar a natal, onde moravam meus pais.

Continuo apaixonada por cordel,lembro o quanto adorei saber da dissertação que Gustavo Dourado usou para se formar, em cordel.Assim , contribui sempre e muito, para o cordel alçar outro nível de leitores.

E faço alguns, às vezes, fujo ao tradicional, por exemplo, Lavadeirinhas, fiz todo em quadras.

Domingo vi um varal de cordeis e uma cesta em outra estande, no Nono Encontro das Literaturas, uma ótima ação da Fundação Cultural de Belo Horizonte, onde resido.A dois Reais.Preço para ninguém dizer que não poderia comprar.

Parabéns ao Jorge Filó e aos cordelistas pernambucanos por seu dia .Achei ótima a idéia do baobá.o cordelismo, no Brasil, é uma baobá gigantesco.

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Belo Horizonte, MG

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