quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Alberto Peyrano-Papagaio de Papel




Abre as tuas asas e dança com o vento sul,
contempla a minha dimensão do alto,
apazigua os olhares
dos que não vêem mais do que os acerca
e faz por elevá-los
nas tuas cores que se fundem com as nuvens.
Uma gaivota poeta,
assombrada de plenitude,
aproxima-se da tua majestade
e tenta seduzir-te com grasnidos
plenos de areia e de mar.
A tua solenidade,
seguimento ilimitado do sonho humano,
continua no vaivém da brisa.
Um menino contempla-te e ri:
Justificas a sua eternidade.

versão livre em português: © Maria Petronilho

© Alberto Peyrano
Buenos Aires, Argentina

O caro amigo Alberto Peyrano, nos envia a atualização de seu canteiro de Poesia ionde nós, os autores, florescemos livremente, mas devidamente ilustrados pelas imagens que escolhe com carinho.

Obrigada, amigo, pela generosidade-a implícita, que está no fundo de seu self, a explícita, que o faz nos presentear com flores de agrados.

Seu blog está lindo e perfurmadíssimo.Adoro estar em tão boa companhia.

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Diretora Regional do InBrasCi em Belo Horizonte.

A poesia de Alberto peyrano tem delicadeza e consitência, é leve mas .E o filosófofo que o poeta é, aparece com clareza na estrofe final:

(...)"A tua solenidade,
seguimento ilimitado do sonho humano,
continua no vaivém da brisa.
Um menino contempla-te e ri:
Justificas a sua eternidade"

Para quem gosta de aprofundar-se no assunto, eis uma pesquisa, abaixo.São informações, contidas no lindo site Scipione, que vale a pena visitar.Naveguem até lá:

www.scipione.com.br/.../cultura/17/home.htm:



Brinquedos

"Na casa, na rua, na escola e em tantos outros locais são vivenciados os muitos rituais do brincar, que permite a quem brinca experimentar os padrões que a cultura e que as hierarquias apontam e transmitem como princípios que serão respeitados enquanto regras sociais. Assim, o brinquedo, um objeto, e/ou um conjunto de objetos, cantos, danças e textos, oralmente repetidos por gerações, têm importantes significados na formação e na manutenção das memórias culturais de uma sociedade.

Construir artesanalmente um brinquedo é uma ação que exige conhecimento de tecnologias. Mas, principalmente, é uma maneira de compartilhar os mesmos princípios e, assim, participar de uma mesma cultura.

Um objeto que se faz voar

A tradição de recortar papéis de seda chega com os portugueses que mostraram como fazer verdadeiras rendas de papéis, que adornavam pratos de doces e prateleiras das cozinhas. Hoje, a arte de recortar papéis é também preservada na confecção de papagaios que enfeitam com suas cores e formas o céu.

A brincadeira de empinar papagaios é praticada especialmente por crianças, mas também por adultos de todas as classes sociais. No Brasil, seu uso é muito antigo, e segundo Câmara Cascudo, "os portugueses trouxeram o ‘papagaio’ do Oriente (Japão e China) sendo introduzido nos continentes europeu e americano".

No dicionário de Morais, lê-se o seguinte sobre os "papagaios": "folhas de papel, ou lenço, estendidas sobre uma estrutura de canas, e cortadas em figura oval, com um rabo na parte fina, que se soltam no ar, e lá se sustentam seguras por um cordel, ou barbante."

Ainda Câmara Cascudo aponta para a história universal do aparecimento do brinquedo: "(...) pela Europa, cerf volant, barulete, cometa, kite, hierschkäfer e papierdrache.

O "papagaio" é um brinquedo também conhecido como "curica", "papagaio", "arraia", "pandorga", "cafifa". Entre os índios Gurayu (Guarani) do leste da Bolívia, é conhecido como "cobebe" semelhante ao encontrado em outras regiões da América.

Especialmente para o uso do termo pandorga, designando o brinquedo tem-se uma observação do escritor José Oiticica.

Temos, de Norte a Sul, numerosos nomes designativos do papagaio, brinquedo infantil. No Nordeste o termo geral é arraia, mas há nomes especiais: corujão, estrela, pipa. No Rio, está-se fixando como termo geral, o de pipa. Em Santa Catarina diz-se pandorga. Todos esses nomes se ilustram facilmente com a figura dos objetos. Mas, pandorga? Pandorga, na gíria portuguesa (de que zona?, onde se originou?) significa homem mal feito, baixo e demasiado gordo informa-nos Alberto Berra. Sabendo-se que a cidade de Laguna, onde ouvi o termo, foi colonizada por açorianos, fácil é de ver entre pandorga e papagaio a mesma relação que entre pipa e papagaio. É, ou já foi pandorga nos Açores, designativo do brinquedo? O termo índio que nós, na minha infância, dávamos (não sei se persiste) a um papagaio sem cauda, quadrado mas aprumado em diagonal e arqueado com aparência de cocar (...).

Os materiais e as maneiras de executá-los não são universais, mas regionais. Os "papagaios" feitos na Amazônia são feitos de papéis coloridos e suas armações de palmeiras de miriti têm forma geométrica (hexágono). No Sudeste são confeccionados em plásticos, com armações de bambus em formas zoomorfas, como "arraias", "peixes", "águias", e ainda as geométricas em papel de seda.

Uma coisa é certa: há uma certa magia em construir estruturas de madeira, forrá-las de papel, plástico, tecido, amarrá-las a um fios e fazê-las ganhar os céus, principalmente em tempo de verão. Talvez por isso milhares de pessoas vivam os rituais de empinar, de voar os brinquedos e – quem sabe – suas emoções.

Brinquedo de menino

Como todo garoto
Também me empolgava
no quintal de casa
de empinar meus sonhos
ainda risonhos
em multicores asas
de meus papagaios (...)
travavam nos céus
que eles ciscavam
alados combates
que às vezes findavam
após rabanadas
(e alguns telegramas que só criança entende)
com a linha cortada
eis o papagaio
do ar azul caindo
boiando mansinho
como tombada pétala
que era enfim apanhada
nas redondezas
pela garotada
com ávida presteza
como presa de guerra."

Silvio de Oliveira, Inventário poético do Recife

É do mundo masculino a pipa e suas variações de formato, nomes e maneiras de construir. Empinar pipas é viver rituais coletivos de brincar, dialogar com cada brinquedo e conhecer seus muitos códigos. Tudo é perfeitamente compreendido por crianças, adolescentes e adultos que se dedicam a essa brincadeira, para eles tão importante como torcer por um time de futebol.

Além de dominar as técnicas de manter a pipa no céu, é costume que o empinador seja o construtor de seu brinquedo. Ao escolher materiais, cores e demais preferências estéticas, ele cria uma obra de arte, que é exibida orgulhosamente para os demais participantes da brincadeira, que no Brasil tornou-se quase um esporte nacional.

Dezenas de coloridas pipas enfeitam o céu em manhãs ou tardes de sol, de céu azul, desenhando as paisagens como que se o homem buscasse um contato, uma fala com o transcendente.

A pipa é um elemento visual das culturas de diferentes povos do mundo e está associada a imaginários antigos e arcaicos, certamente tocando em memórias fundamentais que buscam relacionar terra e céu, ou seja, homem e mitos. Essa brincadeira cotidiana, comum e democrática é uma manifestação de nossa cultura, e, como tal, garante a continuidade de tradições, costumes e de identidade.

O artesanato

O texto de Maria das Graças Santana bem ilustra os processos construtivos do fazer papagaios.

Para confecção do "papagaio", o artesão precisará de talas, papéis de seda, cola, linha, entre outros instrumentos.

As talas empregadas nas armações são retiradas do pecíolo da palmeira miriti (Mauritia flexuosa L. f) muito abundante na Região Norte. Na falta desta, eles utilizam também as palmeiras jupati (Raphia vinifera Beauv.) e o coqueiro da Bahia (Coccus nucifera L.) colhidos nos interiores de Estado do Pará como Moju, Barcarena, Abaetetuba trazidos em feixes para Belém, onde são vendidos nas feiras livres. As talas são raspadas e aparadas pelos fabricantes até ficarem bem lisas. As armações tomam formas variadas de acordo com o tipo de brinquedo que se quer confeccionar. Os diferentes tipos são: a) "curicas"; b) "papagaios"; c) "rabiolas"; d) "cangulas".

As "curicas" não possuem uma armação definida, são feitas com qualquer tipo de papel (jornais, revistas) recortados com tesouras, ou mesmo só com os dedos, tomando a forma mais ou menos de um coração. Este tipo é controlado no ar por meio de uma linha que é presa nas duas extremidades do brinquedo, de modo que não fique apertada, pois do seu centro sairá a linha que guiará o papagaio no ar. Esta linha é raramente encerada pois as "curicas" são feitas especialmente para crianças de 5 a 6 anos de idade, iniciando assim, a sua participação e seu aprendizado na arte de empinar "papagaios".

Os "papagaios" são feitos com três talas formando a armação que é contornada com linhas. A tala vertical serve de apoio as duas talas horizontais que são amarradas mais ou menos 5 centímetros uma da outra. Devido sua prática o artesão não precisa usar réguas para medir as talas que vai fazer o brinquedo. No "papagaio", as talas horizontais medem 50 centímetros e a vertical 45 centímetros. As armações devem ser bem feitas para que o brinquedo não fique "penso" no ar, qualquer descuido nas medidas das talas e na amarração das linhas, será fatal na hora de empinar o "papagaio". Os "papagaios" são guiados por uma linha encerada pelo fato de serem manejados por adolescentes e adultos.

De acordo com as medidas das talas, podemos encontrar subtipos de "papagaios" como por exemplo: "papagaio pote" que se diferencia do papagaio propriamente dito, porque possui a segunda tala horizontal próxima do centro, muito menor do que a tala horizontal próxima do "bico do papagaio". O "guinador" é outro subtipo que possui a tala vertical menor do que a do "papagaio" propriamente dito, segundo os empinadores este tipo é muito difícil de empinar, pois a pessoa tem que possuir uma técnica especial para por este brinquedo no ar, ele é considerado o "caçador" de outros "papagaios" pois seu raio de ação é muito amplo.

As "rabiolas" são formadas também com três talas, se diferenciando dos "papagaios" nos seguintes aspectos: as duas talas que passam em sentido horizontal são amarradas mais distante uma da outra, são mais acessível ao público e de fácil execução no ar.

As "cangulas" são feitas com duas talas amarradas em forma de cruzeta.

Desta etnografia sobre o brinquedo no Norte, em área amazônica, pode-se observar que as técnicas artesanais empregadas são comuns a outras regiões, variando, certamente, algumas matérias-primas, como as madeiras leves comumente encontradas nas florestas.

Ainda aspectos morfológicos merecem análises, pois há um evidente diálogo entre o imaginário amazônico e os brinquedos que representam esse mesmo imaginário, integrando assim a cultura local.

Assim, volta-se aos aspectos tecnológicos para a construção do brinquedo que voa e que comove milhares de brasileiros.

Ao recortarem os papéis que são colados um a um para a cobertura, que é feita a parte, as pessoas improvisam os mais diferentes desenhos sem esquecer o nome que receberá o brinquedo depois de pronto, e, as medidas das armações.

Se a decoração dos brinquedos foi feita em forma de pequenos quadrados, o brinquedo depois de pronto será chamado de "papagaio quadrinho"; se for em forma de um V ou um T os tipos serão chamados de "rabiola vezinho", "papagaio tezinho". De acordo com os papéis forem cortados vão surgindo outras denominações como "papagaio borboleta", "cangula listrada", "bandola" (feito com papéis de duas cores diferentes). Aparece também os tipos decorados em forma de bandeiras, escudos. Essas denominações nos levam a pensar que o brinquedo é "rebatizado" ou seja, recebe um outro nome.

Depois da cobertura pronta passa-se a cola na armação e coloca-se a cobertura sobre a mesma com todo o cuidado para que os desenhos fiquem bem centralizados, depois vira-se a armação na mesa, para fazer o arremate.

Atualmente já se observa no céu de Belém uma outra linha de "papagaios" de formas zoomorfas e de outros objetos como em forma de caixas. Devido o papel de seda não ser tão acessível ao público pelo seu alto preço, atualmente os fabricantes estão fazendo este brinquedo de sacos plásticos das compras de supermercados; fazem também de papéis carbonos encontrados nos depósitos de lixos das instituições, isto nos faz lembrar a citação de Walter Benjamin (1984:14). As crianças "fazem a história a partir do lixo da história".

Como o brinquedo é de ocorrência nacional ganha acréscimos e interpretações regionais, como na região sul, conhecido como pandorga, nome que vigora nessa área de forte imigração européia.

Na entrada do verão, as pandorgas multicores constituem verdadeiro encanto para a petizada. O vento-norte, muito constante nesta época do ano, estimula este folguedo do folclore e nos terrenos baldios é comum ver-se garotos "soltando pandorga". A expressão "empinar" – para nós tem um sentido um pouco diverso. "Soltar" é o verbo usado para esta atividade e "empinar" traz consigo uma idéia de qualidade boa ou má – "a minha pandorga empina bastante" ou "a minha pandorga quase não empina" – isto é, eleva-se mais ou eleva-se menos.

Não é tão simples fazer-se uma pandorga "boa empinadeira", "bem equilibrada", que não seja "maluca", que não dê "cabeçadas" e seja "sereninha".

Há expressões que designam certas situações: quando a pandorga anda ao redor por falta de "rabo" diz-se que está com "dor-de-barriga" e se o cordão apresenta uma curva por falta de força "tem barriga".

Para "soltar uma pandorga" um guri "segura a pandorga" numa distância de uns quarenta metros e o outro "dá uma corrida" ou uma "descaída", aguardando, porém, "uma rajada de vento" e gritando no momento preciso "já!"

Pelos desenhos que apresento julgo não ser necessário uma descrição dos diversos tipos de pandorgas. Anoto apenas o seguinte: algumas vezes o papel forma figura de bandeiras, emblemas.

A BRINCADEIRA DO CORTE

Não sei se este fato é encontrado em outros Estados da Federação além de Santa Catarina. A brincadeira consiste no seguinte: amarra-se no "rabo da pandorga", feita de madeira e com duas lâminas cruzadas. Com alguma habilidade pode-se cortar o cordão de outra pandorga.

TELEGRAMA DE PAPEL

Um pequeno pedaço circular de papel, furado no meio, é introduzido no cordão. Com o vento, este é carregado até o alto, junto à pandorga.

São assim chamados os diferentes tipos de pandorga:

Barrelotes
Forma simples
Com vareta arcada
Com bico e ronco
Estrelas de seis ou mais bicos
Arraias
Arraia-de-corrente
Caixas

Atenção: Lembre a todos os empinadores de pipas, especialmente as crianças, que não se deve, em hipótese alguma, soltar pipas em locais próximos a rede de energia elétrica. Tampouco deve-se usar cerol – substância feita a base de vidro."


A belíssima imagem de pipas múltiplas em céu de brigadeiro , foi captada no cito site Scipione:
"Pipa produzida por Sílvio Voce
Antonio Milena/Abril Imagens"

E, no site de Alberto Peyrano, canteiro de versos, nós que estamos em outubro:

CANTEIRO DE VERSOS

Atualização Outubro 2008

Chorai, chorai
Guitarras da minha terra
O vosso pranto encerra
Minha vida amargurada
(© Júlio de Sousa)


POETAS PARTICIPANTES

Ana Ferreira Trindade
Antonieta Elias Manzieri
Cândido
Clevane Pessoa
Dilene Maia
Edna Liany Carreon
Gregório Guerreiro
Humberto Soares Santa
Irani de Gennaro
Jorge Humberto
José Antonio Jacob
José-Augusto de Carvalho
Lêda Mello
Leila Míccolis
Lenamais
Ligia Tomarchio
Lisiê Silva
Lorenzo Yucatán
Lupércio Mundim
Luz Sampaio
Malu Otero
Manuel de Sousa
Marcos Milhazes
Margaret Pelicano
Maria Petronilho
Marilena Trujillo
Mário Rezende
Marise Ribeiro
Nancy Cobo
Neuza Nóbrega
Ógui L. Mauri
Raquel Luisa Teppich
Regina Ribeiro
Remisson Aniceto
Rui Pais
Simone Borba Pinheiro
Sulla Mino
Tere Penhabe
Thais S Francisco
Vera Jarude
Vilmar Pirituma
Yara Nazaré
Zena Maciel e
Alberto Peyrano


Meu agradecimento a todos os queridos poetas participantes


http://canteirodeversos.blogspot.com



© Alberto Peyrano
Buenos Aires, Argentina

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1 Comentários:

Às 16 de outubro de 2008 às 18:54 , Blogger Alberto Peyrano disse...

Muito obrigado querida amiga Clevane! Você e especial e gostei muito dos textos somados a meu poema "Papagaio de papel".
Beijos e carinhos e Deus abençõe você
Beto

 

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