quinta-feira, 15 de maio de 2008

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15/05/2008 11h41
Ecos da Távola Nua.
Contei algumas vezes esse episódio, mas vou repetir, agora, num registro de alma.
Cheguei em Belém , Pará, e sentia-me absolutamente curiosa, pois passara por lá aos dois anos,com meus pais,e agora retornava, adulta, pois meu marido, o engenheiro civil Eduardo Lopes da Silva iria trabalhar na duplicação da ALBRAS. Seria a primeira vez em que eu ficaria em outra cidade: na capital, para os filhos estudarem -no Colégio Moderno- e ele, em Barcarena, para onde viajava às quintas de manhã, depois de passar a noite em casa, chegado na quarta-feira .Retornava no sábado, e então, fazíamos compras, íamos para o Clube Lítero Português e na segunda, ele retornava, de barco depois de lancha a motor, com seu head fone a ouvir música que despistasse o toc-toc-toc monótono de sua condução. Uma vez fui lá no feriado, e era uma maravilha a paisagem ribeirinha, pássaros, animais e casas de caboclos, canoas muitas vezes remadas por mulheres e pequeninos...

Bom , na capital, há muito o que se ver.Da minha janela de nono andar, divisava o por-do -sol deslumbrante, em tons alaranjados.Quando ia trabalhar, passava pela praça, onde fica o famoso Teatro da Paz e o Waldemar Henriques. Mais tarde, meu filho Alessandro (Allez Pessoa, tocaria neste último). Há muita Art Nouveau , estátuas fantásticas. E as mangueiras. O rio Guamá.O ver-o-Peso.Recebo um jornal virtual de poesia, chamado ", onde o Mercado do Ver-O -Peso deixa meus olhos em festa.
Lojas perfurmadas, o cheiro de patichouli, pau-d'angola, e outros perumes naturais da Amazônia, está sempre presente.
Cruzamos na rua com turistas ou nativos que levam preguiças ao ombro, esse animal de adorável carinha e unhas, enormes, mas necessária à sua sustentação e locomoção em pianíssimo.
Nos Bancos, indígenas com traços tribais no rosto, alguns de terno. Às sextas feiras, quando eu rumava para o posto de Psiquiatria do antigo INAMPS,onde trabalhava, começava-se a armar as barracas para a feira de artesanato, onde se encontra desde jóias de prata, couro de cobra ou crocodilo,muiraquitãs de pedras semi-preciosas ou barro laqueado de verde, calçados , objetos de balata, penas, camisetas com poemas, serigrafados ou estampados com aves e animais belos da fauna :afinal, Belém é "a porta da Amazônia". Não sabemos para onde olhamos primeiramente, tantos os objetos interessantes e que preenchem a necessidade de beleza e originalidade que os seres humanos têm.

Ainda assim , eu estava um pouco perdida, pela primeira vez sem o marido todos os dias em casa.
Fui ao banco do Brasil.Meu pagamento caíra na vala, uma vez que de S.Luiz ,Maranhão,pedira transfeência para S.Paulo e logo depois para Belém.Saí, meio chateada e nessas horas, a gente gosta de se presentear.Uma espécie de compensação inconsciente.Saí na Av.Presidente Vargas , virei à esquerda e desci uma rua comprida que ia até ao Ver-o -Peso e terminava nas "Casas Pernambucanas". Logo no início, uma livraria. E meu olhar encompridado logo alcançou um cesto de promoções. Ao ver que livros eram ,de cara, encontrei Artur da Távola
.
Fiquei felicíssima, pois meus livros estavam encaixotados ainda.Comprei todos, mesmo os que já possuía, pois, recuperados os meus, presentearia alguém querido com eles.Assim , fiquei para sempre com a impressão de "conversar" com Artur.Suas palavras sempre contém uma filosofia de vida marcante.
Pessoa simples, apesar da merecida fama, da vida pública, da Rádio.
mandava-lhe notas e páginas de meus blogs, ele respondia, oferecia espaço.Solidário e sábio.

Hoje, apesar de tantos já terem registrado e escrito sobre sua passagem, brota-me o desejo e de escrever-lhe algo.
E aqui vai, diretamente na telinha, embora eu prefira escrever no papel.Faz de conta que é.

Do Sagrado cavalheiro de seu Tempo.

Da Távola, o cavalheiro -cavalheiro sagrado
ao seu tempo de existir,
servidor de Letras e Signais,
apanha o simbolismo e o associa ao seu nome.
O Rei Arthur e sua sabedoria, o Homem -de -Letras
e sua sinfonia, a Música decifrada dos Sígnos e andamentos,
intenções e força imagética,
psicodesenvolturas , palavras que incendeiem a mesmice
e se fazem pousar, ternas passarinhas, nas mãos do dono.
Destas, para os demais.
Trinados, alaridos, apontamentos, revelações,
magia.

Artur da Távola vem de despertar, enfim
e no vôo maior , deixa legado.
Subentende-se quimeras, inovações, primaveras
e invernia.

Minha alma sente aquela sala vazia
onde as almas sentavam-se para diálogo generoso,
nascido de seu monologar ofertado
aos demais.

Não sentirei, todavia, falta de conversar contigo, Artur:
estás bem vivo
em tudo que lavraste
com a pirografia sacra de teu verbo..


Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Poeta Honoris causa pelo CBLP

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

Na imagem , estou ao lado dessa távola -mandala ,onde uma águia centraliza o olhar.Parece-me Artur.Obra da artista Maria Queiroz, que integra nosso livro-álbum POIETISA(s), ainda na feitura, por Marco LLobus e eu, no dia em que a entrevistamos, fotogramos, filmammos.

(POIETSA(s) é projeto aprovado poela lei Municipal de Incentivo à cultura com vários desdobramentos:blogs, movies e posteres virtuais, entre outras ações).

Foto:Marco Llobus Maio/2008,em casa da poietisa.






Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 15/05/2008 às 11h41
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